10/03/2009

Testamento II



De uma troca de mails entre Bruno Cruz e Manuel Abranches de Soveral - autor do livro "Portocarreros do Palácio da Bandeirinha" , não quisemos deixar de publicar uma importante análise deste ilustre investigador , para as áreas da História e Genealogia, sobre o testamento do Barão de Pombalinho.

"Caro Bruno Cruz

Da leitura deste testamento fica-se a saber muita coisa. Desde logo, que o barão de Almeirim se portou muito mal para com o padrasto...
Fica também a saber-se que, desde que ficou viúvo, o barão de Pombalinho passou a viver em Santarém. E que morreu em Lisboa, onde também tinha casa, na mesma rua onde vivia seu sobrinho e herdeiro, o visconde de Portocarrero; a Rua Direita das Janelas Verdes, na freguesia de Santos o Velho.
Embora se veja no testamento que o barão esperava morrer em Santarém, e ser aí enterrado, como a morte o apanhou em Lisboa é muito provável que aí tenha sido sepultado. Onde? Nada mais natural do que no mausoléu dos viscondes de Portocarreiro, no cemitério dos Prazeres, em Lisboa, que ostenta um brasão de armas de Cunha, Brito, Araújo e Portocarrero. Nunca fui a este jazigo, mas indo lá é possível que se verifique a existência do túmulo do barão de Pombalinho. Neste caso, o jazigo não terá sido feito (como se julga) para o 1º visconde, falecido em 1864, mas para o barão, falecido em 1855.
Para ter a certeza, só vendo o óbito do barão em Santos o Velho.

Verifica-se também no testamento que existia um "retrato" (quadro a óleo) do barão, que este ofereceu à mulher e que depois ficou para si. Herdou-o portanto o visconde de Portocarrero. Acontece que toda a geração dos viscondes de Portocarrero se extinguiu, pelo que o quadro levou certamente sumiço. Deve estar por aí a servir de "antepassado" de alguém…
Verifica-se também que o herdeiro universal do barão não foi o 2º visconde de Portocarrero (seu sobrinho-neto), mas sim o 1º visconde, seu sobrinho direito. O testamento não refere bens em Pombalinho, porque não precisa, uma vez que só há um herdeiro universal. Mas sabemos que tinha aí bens, nomeadamente a casa que depois foi escola, pois o 2º visconde diz que a herdou da legítima (herança) de seu pai. O testamento só refere vagamente os bens que o barão herdou dos pais, e a casa em que vivia em Santarém, cujo usufruto (não a raiz) deixou a sua afilhada D. Maria de Jesus.
Quando o barão fez o testamento (1854), ainda o sobrinho não era visconde. Com efeito, o Dr. João Cardoso da Cunha e Araújo de Portocarrero foi feito visconde de Portocarrero a 30.10.1855 e Par do Reino hereditário a 30.12.1862. Foi ministro da Justiça (1839), senador pelo Porto e Bragança (1838), juiz do Supremo Tribunal de Justiça (1836), juiz da Relação Comercial de Lisboa (1833), etc., etc., fidalgo cavaleiro da Casa Real (4.9.1824), comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, cavaleiro da Ordem de Cristo, tendo nascido a 20.10.1792 na quinta de Gaçamar e falecido em Lisboa 14.1.1864.
Mando-lhe junto uma fotografia do 1º visconde, vestido com a sua toga de senador e juiz do Supremo (não tenho com mais resolução).
E também nova imagem do 2º visconde com mais resolução (não tenho com mais). O que tenho sobre a sua biografia foi o que lhe mandei.

Portanto, a doação do 1º andar para escola em Pombalinho foi uma iniciativa exclusiva do 2º visconde, e não teve nada a ver com o barão, como supus.

Quanto ao nascimento do barão, se tem o assento e diz 1781, é porque é. Eu também tinha 1783, mas o erro pode resultar de má leitura do assento. Contudo, 1781 é de facto mais provável, pois era o filho mais novo e a irmã anterior, D. Maria Jerónima, nasceu a 25.10.1779.

Cordiais cumprimentos,

Manuel Abranches de Soveral
 "





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